sábado, 7 de dezembro de 2013

NO MATO... COM OU SEM CACHORRO?


NO MATO... COM OU SEM CACHORRO?
Atualmente é comum pessoas morarem sozinhas. Solteiras, separadas ou viúvas, cada vez mais pessoas optam por ter um cantinho só seu.
            Numa breve comparação é como se em plena zona urbana fossem “morar no mato” e acabam se isolando para viver um mundo paralelo onde o contato com outro humano se dá, de maneira meramente profissional, no ambiente de trabalho. Encaram e fazem uma força enorme para acreditarem que a internet é o ponto mais moderno e completo no que se refere ao relacionamento humano.
            Entretanto, todos sabem que não é bem assim.
            “Moram no mato”, mas com ou sem cachorro?... Eis a questão.
            Uns preferem o isolamento total a fim de não se prenderem a nada, de não terem compromisso com nada e usufruírem de uma liberdade que, ao final de um período ou de uma vida pode se tornar uma arma letal para quem a escolheu, ou seja, a liberdade total pode ser uma  faca de dois gumes.
            Outros adotam animais de estimação, em geral cães ou gatos, para ter a ilusão que não vivem conversando somente com o computador do qual nem ao menos sabem se o interlocutor é de fato quem diz ser. O animal dá a sensação de falarmos com alguma coisa viva que tem a grande vantagem de não discutir, não cobrar atitudes e, quase sempre não nos decepcionam, a não ser quando estraçalham um calçado de estimação ou quando fazem as necessidades fisiológicas fora do local determinado. No entanto, infelizmente, com o animal não há possibilidades de diálogo, coisa imprescindível para que os humanos vivam em sociedade.
            A coisa chega ao extremo e se torna perigosa quando a pessoa em questão tenta humanizar o animal, seu “grande e único amigo” dando a ele comida de gente, cama de gente, roupas de gente, calçados e outras coisas que só humanos usam tirando todas as possibilidades do bicho ser bicho e viver como tal.
            Ao final da vida, as duas situações levarão a pessoa para o mesmo destino, pois no seu “mato” particular sem cachorro a pessoa acabará solitária e, no “mato” com cachorro a situação será a mesma, já que, animais não contam histórias, não lembram os bons momentos da vida, não nos lembra de tomar o remédio na hora certa e nem mesmo telefonam para a emergência no caso de uma queda ou um mal - súbito. Efetivamente, com ou sem animal de estimação, ao morar sozinhos podemos estar num mato sem cachorro.
            Certamente que, de forma alguma, é sugerido aqui proibir uma pessoa de morar sozinha ao seu modo, com ou sem a companhia de um animal, mesmo porque temos que respeitar a liberdade de cada um e considerar o ponto de vista de terceiros em relação à segurança pessoal e ao relacionamento afetivo com outras pessoas. Isso às vezes gera certa insegurança, mas convenhamos que o ideal, mesmo que desejemos profundamente nos isolar seria procurar um (a) companheiro (a) ou, adotar uma criança ou ainda, unir o útil, o apaixonante e o agradável arrumando alguém, adotando uma criança e até mesmo ter um animal de estimação. Porque não?
            Agindo assim, mesmo que tenhamos de atropelar alguns de nossos ideais estaríamos fazendo uma poupança afetiva e uma aposentadoria segura em termos de relacionamento, pois construiríamos uma família e a família, por mais complicada que seja, é o porto seguro para qualquer pessoa.
Toninho Portes
 Outubro/2013

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

AGONIA DO CASARÃO

Seria uma simples calçada
Se não fosse a cultura alçada
Ao lado e bem realçada
Por meio do casarão.
Tão imponente outrora
Nunca mal como agora
Com sua beleza indo embora
É de doer o coração

Na sua frente uma praça
Cheia de vida e sem graça
Já não alegra quem passa
Por apresentar tal visão.
Machuca a vista da gente
Situação deprimente
Mas, como um indigente...
Agoniza o casarão.

Conta a história, houve dia,
Que cada pessoa que ali ia
Encontrava o que pretendia
Porque ele já foi um armazém
Era “secos e molhados”,
De tudo tinha um bocado,
O cidadão ficava informado,
Pois a prosa fluía bem.
Ali já foi a morada
De família estruturada
Sempre muito apreciada
Por toda a comunidade
A alegria era estampada
Nas cortinas esvoaçadas
Nas toalhas todas rendadas
E nas feições de felicidade

Ele já foi hospital
Cuidava-se de todo mal
Doença simples ou fatal
Era só comparecer.
Atenção, não tinha igual
O amor ali era tal
Que mesmo num leito final
Sentia-se fortalecer.

Como flor despetalando
Ripas e telhas vão tombando
Tal qual um punhal fincando
Direto no coração.
Como se fosse um estorvo,
Não será cultura de novo,
Enterra a história de um povo...
A morte do casarão.

Motivação: Casarão caindo no centro da cidade de Liberdade.
Texto: Toninho Portes.
 

domingo, 1 de dezembro de 2013

“O GALO E OS FALSOS PODERES ABSOLUTOS”

Conta a lenda que numa fazenda o dia ainda era dominado pela escuridão da madrugada quando o galo que se achava detentor de todos os poderes sobre o raiar do dia, pulou do poleiro e, no chão, como se estivesse se aquecendo, esticou as canelas, abriu as asas, olhou para os lados, caminhou até o centro do terreiro, voltou, subiu no telhado do galinheiro, estufou o peito, bateu as asas e cantou com todas as suas forças.  Os outros animais não o viam, pois, alguns acordavam com seu canto e os outros, apesar disso, dormiriam até mais tarde. Mesmo assim ele agia como se tudo fosse um grande espetáculo.
            De fato, os primeiros raios de sol surgiam por trás dos montes mais distantes, os homens começavam a juntar as vacas para a ordenha e o galináceo todo orgulhoso comentou com o burro que se aproximava lentamente:
___ Viu “seu” burro? Eu canto e o dia aparece. Se não fosse meu grande poder o mundo só teria escuridão. As plantas não cresceriam os homens não trabalhariam e todos seriam infelizes por falta de luz. Todos dependem de mim.
___ Não se iluda. ___ respondeu o burro ainda com cara de sono. ___ antes de você já havia a luz, a escuridão, as plantas cresciam, o homem trabalhava, enfim, tudo acontecia normalmente.
___ O senhor fala isso por inveja de não saber cantar. ___ retrucou o galo.
            Certo dia, porém, depois de umas ciscadas a mais no dia anterior, o galo perdeu a hora e quando acordou o sol já ia alto. O coitado se desesperou e quando viu que todos cuidavam da vida normalmente, sem que precisassem de seu canto para o sol nascer, percebeu que o burro tinha razão. A tristeza foi grande e a cada dia o bicho ia se abatendo mais até cair em depressão. Foi aí que os outros animais se uniram e resolveram mostrar ao galo que o mundo não gira em torno de uma só criatura. Que cada indivíduo e cada coisa têm seu lugar e sua utilidade no universo, que a união de todos faz a vida acontecer melhor e que a função de sua espécie, além da reprodução e da sobrevivência era de entoar seu canto maravilhoso nas madrugadas anunciando o nascer de mais um belo dia.
            Depois disso, o galo se reanimou, todos retomaram sua rotina e viveram felizes para sempre.
                                                                                                                                             (adaptado de conto popular por Toninho Portes)